Você conhece a história da Honda?
Em 1948 o Japão vivia uma grande crise, inclusive econômica. A 2ª Guerra Mundial havia terminado três anos antes e o país, ocupado pelas forças aliadas, lutava para se reerguer.
Foi nesse contexto que, em 24 de setembro de 1948, a Honda nasceu oficialmente.
Oficialmente porque o “Honda Technical Research Institute”, fora criado, dois anos antes, por Soichiro Honda e foi este instituto de pesquisas técnicas que deu origem à Honda Motor Company, que foi registrada com capital social de 1 milhão de ienes, o equivalente a cerca de 30 mil dólares nos dias atuais.
E essa história começa com uma despretensiosa visita à casa de um amigo, na qual Soichiro Honda viu um pequeno motor de 50cc, originalmente projetado para ser gerador de energia de um rádio do exército imperial.
Naquele instante, nasceu a ideia de realizar um motor Honda, que determinou o início de tudo o que estava por vir.
Soichiro Honda empregou toda sua perseverança para adaptar o tal motorzinho à uma bicicleta. Apesar de não mais ser mais fabricado à época, Soichiro conseguiu 500 deles e seu trabalho não se resumiu em apenas adaptá-los às bicicletas.
Já com a tabuleta “Honda Technical Research Institute” na porta do modesto barracão com algum ferramental, Soichiro e uma dezena de colaboradores modificaram tais motores, corrigindo imperfeições e realizando testes de rodagem antes de vendê-los.
Misto de piloto de teste e garota propaganda, Sochi,a esposa de Soichiro, a pedido do próprio rodou com o primeiro protótipo do motor adaptadoà sua bicicleta para cima e para baixo da pequena cidade de Hamamatsu. Ela apontou alguns problemas – suas calças ficaram sujas de óleo misturado com gasolina que vazava do carburador..
Soichiro resolveu o problema do carburador e as andanças de Sochi com a exótica bicicleta motorizada, para testes e mais testes foram a melhor propaganda da novidade.
Os clientes começaram a aparecer na porta do Honda Technical Research Institute, gente não apenas de Hamamatsu mas também de Nagoya, Osaka e Tóquio. Este foi o verdadeiro início da Honda.
A história da Honda no Brasil
4 de novembro de 1976. Foi neste dia que em Manaus, AM, a primeira moto Honda fabricada no Brasil saiu da linha de montagem. Para contar como e por qual razão a Honda decidiu fabricar motos na amazônia é necessário dar uma marcha a ré de cerca de cinco anos no tempo, voltando até outubro de 1971.
Foi naquele mês e ano que, em um modesto predinho no bairro da Pompéia, em São Paulo, a Honda inaugurou sua primeira subsidiária no Brasil – uma importadora – destinada a receber caixas com motos prontinhas trazidas diretamente do Japão.
A marca Honda então já era razoavelmente conhecida dos brasileiros, pois desde a metade dos anos 1960 importadores independentes vendiam alguns modelos no mercado nacional, motos que logo ganharam boa fama principalmente pela tecnologia, robustez e confiabilidade mecânica.
Em pouco tempo a entrada oficial da Honda no Brasil se comprovou um excelente negócio: as poderosas CB 750 Four, 500 Four e CB 350 viraram objeto máximo dos desejos dos motociclistas mais experientes, enquanto as pequenas CB 125, ST 70 e CB 50 formavam uma legião de novos fãs do guidão. Ter uma Honda era o máximo, não só pela qualidade da moto em sí mas também pelo caprichado pós-vendas, disponibilidade de peças de reposição e mecânicos bem treinados para seguir a excelência do produto.
Foi nesse clima que o fundador da empresa, Soichiro Honda, decidiu vir ao Brasil em pessoa, no final de 1973. A viagem tinha propósitos múltiplos: ver seus negócios de perto, conhecer um pouco melhor o país e reencontrar um amigo de longa data, um conterrâneo, radicado no Brasil desde o finalzinho dos anos 1930.
O amigo Yasutomo Kato e esposa ciceronearam Soichiro e sua esposa Sachi. Os casais visitaram Brasília, Foz de Iguaçu e boa parte do estado de São Paulo, lugar que naquela época concentrava praticamente toda a indústria automobilística brasileira.
Honda-san gostou do que viu e ouviu de seu amigo Kato, um entusiasta do Brasil, e decidiu comprar uma área de 1,7 milhões de m2 na região de Sumaré, a poucos quilômetros da capital paulista. Qual era a idéia? No futuro construir uma fábrica Honda motos no Brasil.
Em meados de 1975 uma “canetada” dada em Brasília trouxe o futuro para o presente, e fez Soichiro antecipar os planos: a legislação das importações mudara e, do dia para noite, foi proibido trazer qualquer tipo de veículo – carro ou moto – do exterior. A operação da Honda no Brasil teria que mudar e havia apenas duas alternativas, fechar ou fabricar.
Felizmente a opção foi a nº2. A necessária rapidez para montar a fábrica fez a escolha recair em Manaus, local onde a política de incentivos fiscais para a instalação de indústrias e importação de maquinário e equipamentos por conta da Zona Franca era sedutora.
A toque de caixa uma fábrica foi construída, e os problemas foram sendo resolvidos um a um: não tem estrada? A produção viajaria por rio, 1.600 km até Belém do Pará e, de lá, por caminhão para onde for. Não existem fornecedores de motopeças em Manaus? A empresa fabricaria praticamente todos os componentes internamente.
A primeira moto Honda fabricada foi a CG 125: derivada da CB 125S japonesa, a CG nacional repetia as qualidades dinâmicas do modelo importado, só que oferecendo maior robustez. A CG logo conquistou a preferência dos brasileiros, e desde seu lançamento é a motocicleta mais vendida do Brasil.
A fábrica da Honda em Manaus superou todos os desafios e hoje não só a produção ainda é escoada por via fluvial como permanece muito verticalizada: a não ser pelos pneus e outros poucos componentes, tudo aquilo que compõe uma Honda “made in Manaus” é produzido internamente.
A fábrica de Manaus é a maior da empresa dedicada exclusivamente à fabricação de motos no planeta e sua história espelha a perseverança e visão de futuro de Soichiro Honda, assim como o real sentido do slogan da empresa, o Poder dos Sonhos. Sim, por que se a razão prevalecesse sobre o de sonho, a fábrica da Honda em Manaus e a própria Honda não existiriam…
A história da Honda CG 125
Nos anos 70 e 80, as motocicletas que rodavam nas ruas do Brasil eram poucas e não é exagero dizer que 100% delas, ou algo bem perto disso, eram usadas para o lazer. Das pequenas cinquentinhas à poderosas 750, poucos de seus felizes proprietários as usavam como meio de transporte e menos ainda para o trabalho. Enfim, moto era curtição de alguns poucos..
Mas aí chegou a CG 125 e tudo mudou. Não foi de repente, mas foi bem rapidamente. Para começar, a Honda acertou na mosca quando estabeleceu que sua primeira moto não deveria ser uma cinquentinha, mas sim, uma bem mais potente 125. Isso fez da CG a moto mais adequada ao nosso território, capaz de funcionar bem tanto nas cidades planas como naquelas cheias de ladeiras.
Segundo ponto importante? A fama pregressa da Honda no Brasil. Desde o final dos anos 1960, o brasileiro reconhecia a Honda como uma empresa que produzia as motos mais robustas entre todas, especialmente as rápidas CB 125S ou as luxuosas CB 125 bicilíndricas, objetos do desejo de muitos, mas ao alcance de bem poucos.
Se comparada a estas “Made in Japan”, nossa CG 1976 não devia nada, somente um verdadeiro “chato” seria capaz de apontar alguma desvantagem em relação às 125 importadas. A CG trazia detalhes como: o painel com conta-giros, a trava de capacete, tampa de combustível com chave e o elevado padrão típico das Honda em detalhes idênticos aos de Honda importadas.
O restante do “serviço” que garantiu à CG 125 seu incrível e praticamente instantâneo sucesso, foi o boca a boca. A informação passada pelos primeiros clientes que atuaram como garotos de propaganda da novidade, confirmando o que nem era preciso – mas foi fundamental – confirmar: a Honda fabricada na Amazônia era equivalente à produzida no Japão. Aliás, até melhor, pois foi adaptada às condições locais, ao piso ruim e ao desconhecimento de preceitos básicos de manutenção.
Enfim, a CG resistiu ao Brasil, encantou os brasileiros e virou aquilo que ela ainda é: uma lenda sobre rodas, um sucesso incomparável, a primeira moto de muitos e a queridinha de todos nós.
As asas da Honda e as primeiras motos
Soichiro Honda fundou sua empresa em 1948, mas mesmo antes disso as asas que caracterizam o logotipo da Honda já faziam a cabeça do dinâmico empreendedor japonês voar.
Como todos de seu tempo, Soichiro foi muito influenciado pela mitologia grega e seus significados, especialmente pela deusa Nike, cuja imagem é representada por uma mulher alada portando uma coroa de louros. Foi dali que veio a inspiração para o primeiro logotipo da Honda.
Obcecado por vencer, seja nas pistas ou comercialmente, para Soichiro Honda a deusa grega da vitória pareceu perfeita para ser associada à imagem de sua empresa. Já em 1947, antes mesmo da fundação formal da Honda Motor Co. as bicicletas motorizadas de Soichiro – sua primeira incursão no mundo da mobilidade – traziam a deusa alada no logotipo.
Uma deusa alada em amarelo, nome Honda em letras vermelhas em um fundo azul é o logotipo que aparece naquela que é considerada a primeira motocicleta Honda de fato – por não ter pedais de bicicleta como as anteriores –, a Dream Type D. Tal emblema durou até a chegada da Benly J-Type, que estampava no tanque duas asas estilizadas.
Sim, a imagem da deusa Nike sumiu deixando apenas suas asas no emblema da Honda, como que dizendo “vocês já estão voando sozinhos, não precisam mais de mim!”. Uma grande verdade, pois o sucesso da tecnologia Honda estava prestes a tornar a marca uma potência mundial.
Foi através da Benly que, já em 1955, a Honda assumiu a asa única como logo. A palavra “Dream” vinha grafada sob a asa em alguns modelos, em outros apenas as letras “HM”, de Honda Motors. Tais variações vinham acompanhadas de ligeiras alterações no formato da asa.
O começo dos anos 1970 traz uma evolução no design do emblema que, de um modo geral, é o que perdura até hoje: asa estilizada surgiu acima do nome Honda. E não demorou nada para que letras e símbolo da Honda se fundissem em uma coisa só, formando um logo forte, como a própria história da empresa. Das adversidades do Japão arrasado na 2ª Grande Guerra à liderança mundial o tempo literalmente voou, e nas pistas e revendas de todo o planeta a Honda literalmente fez jus à suas asas da vitória.
As primeiras motos Honda do Brasil
No finalzinho dos anos 1960, a primeira moto da Honda começou a ser vendida no Brasil. Aliás, as primeiras: modelos com motores de 50, 65 e 90cc que simplesmente revolucionaram o mercado.
Até então, as motos de baixa cilindrada eram todas equipadas com barulhentos motores 2 tempos, cujo funcionamento exigia a adição de óleo à gasolina, o que tinha como consequência a emissão de uma desagradável fumaça de odor forte pelo escapamento.
As Honda, por terem motores 4 tempos, não só eram bem mais silenciosas como não faziam fumaça, o que definitivamente chamou a atenção. Outra qualidade das motos da Honda era a grande qualidade construtiva e o excelente acabamento, que atraia o olhar e resultava em uma durabilidade excepcional.
Logo as novidades da Honda, importadas por representantes oficiais – a COBRI, de São Paulo – invadiram as ruas de todo o Brasil. Viraram “moda”, e todos queriam ter uma, sendo que o modelo de 50cc (cuja denominação oficial era C110) podia ser pilotado por menores de 18 anos sem necessidade de habilitação, de acordo com a legislação vigente da época.
Vermelhas, pretas ou brancas, a Honda 50 (C110) e a Honda 65 (CS 65), foram os modelos mais populares destes fase inicial da Honda no Brasil, mas também foram importadas as motonetas CM 50 e CM 90, antecessoras da nossa C 100 Dream, caracterizadas por terem proteções plásticas para as pernas e a embreagem automática.
As Honda 50, 65 e 90 elevaram o padrão técnico vigente com seus motores OHC e câmbio de quatro marchas, característica que era uma exclusividade das motos de alta cilindrada da época (acima dos 250-300cc), e literalmente, serviram como verdadeira moto-escola informal para muitos.
Na verdade, foi através destas primeiras Honda que as motos começaram a fazer parte da lista dos desejos de cada vez mais jovens da época. Não era difícil alugar uma Honda 50 ou 65 para voltinhas de meia hora ou uma hora nas grandes capitais ou em cidades de veraneio em período de férias.
Com a cumplicidade do trânsito tranquilo, fiscalização branda e nenhuma exigência de capacete, era muito fácil montar em uma Honda, sem ter nenhuma experiência além da bicicleta; foi o que fizeram muitos que hoje, do alto dos seus 60 ou mais anos de idade, relembram daquela época com saudade.
As Honda 50 e 65 foram as motos da “primeira vez” de toda uma geração. E, como sabemos, da primeira vez a gente nunca esquece…